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Drogas e VIH

Doenças, Drogas em geral, Geral, Saúde, Sociedade Março 24th, 2009

Qual a relação entre o uso de drogas e o HIV?

O uso de drogas é o maior factor de disseminação do VIH. A troca de material para a injecção de drogas pode transmitir o HIV e hepatites e as pessoas que usam drogas têm tendência a ter uma actividade sexual não protegida.

O uso de drogas pode também ser perigosa para as pessoas que estejam a tomar medicação antiretroviral. As pessoas que usam drogas têm tendência atomar menos os medicamentos e as drogas podem ter interacções perigosas com os antiretrovirais.

Injecção e infecção

A infecção pelo HIV espalha-se mais facilmente quando as pessoas trocam entre si material usado para a injecção. A troca de seringas e outro material também transmite hepatite B, hepatite C e outras doenças.

O sangue infectado é introduzido na seringa e injectado juntamente com a droga pelo próximo utilizador da seringa. Esta é a via de mais fácil transmissão do HIV porque o HIV entra directamente no sangue.

Mesmo pequenas quantidades de sangue nas caricas, nos filtros, nos garrotes ou na água destilada pode ser suficiente para contaminar um outro utilizador. O sangue presente nas mãos – mesmo em pequenas quantidades – pode ser perigoso quando por exemplo tentar ajudar alguém a encontrar uma veia, a segurar um braço ou a dar material de injecção.

Para reduzir o risco de HIV e infecção por hepatites nunca troque qualquer tipo de material usado para as drogas e mantenha as suas mãos bem lavadas. Cuidadosamente lave as suas caricas e o local onde se injectou.

Um estudo recente mostrou que o HIV pode sobreviver numa seringa usada durante 4 semanas. Se você reutilizar o seu material pode reduzir o risco de infecção se o lavar entre as ocasiões em que o usa. Se possível, só reutilize a sua própria seringa. Ela deve ser desinfectada porque as bactérias crescem dentro dela.

A maneira mais eficaz de desinfectar a sua seringa é lavá-la com água, depois com lixívia e depois lavá-la novamente. Procure retirar todo o sangue que estiver dentro da seringa agitando-a vigorosamente durante 30 segundos. Use água fria porque a água quente tem tendência a que o sangue forme coágulos. Para matar o HIV e os vírus da hepatite C deite lixívia dentro da seringa durante dois minutos. Mas nem sempre a seringa fica limpa de HIVe de vírus da hepatite. Use, sempre que possível, uma nova seringa.

Programas de trocas de seringas

Os programas de troca de seringas permitem que use as suas drogas com segurança. Algumas pessoas pensam que a troca de seringas promove o uso de drogas, o que está provado, não é verdade. As taxas de infecção baixam com os programas de trocas de seringas e há um maior número de pessoas que usam drogas que entram em programas de tratamento. Em Portugal pode encontrar seringas em quase todas as farmácias de bairro.

Uso de drogas e sexo não seguro

Para muitas pessoas drogas e sexo andas juntos. As pessoas que usam drogas muitas vezes vendem sexo para obter drogas. Algumas pessoas pensam que a sua actividade sexual é mais divertida quando usam drogas.

O uso de drogas, incluindo álcool, aumenta a probabilidade de que as pessoas não se protejam durante o acto sexual. As pessoas que vendem sexo por droga podem ter dificuldades em que o façam de modo livre e consciente. Muitas pessoas que fazem sexo por droga esquecem-se de usar protecção ou de cuidar disso.

Medicamentos e drogas

É muito importante tomar todas as doses dos medicamentos antiretrovirais. As pessoas não aderentes (que esquecem de tomar algumas ou muitas doses) têm valores mais elevados de HIV no seu sangue e desenvolvem resistências aos medicamentos. As pessoas que usam drogas são mais propensos a ter uma aderência fraca o que leva à falência terapêutica.

Algumas drogas interferem com os medicamentos. O fígado metaboliza alguns medicamentos usados para combater o HIV, especialmente is inibidores das proteases e os não nucleosídeos. Também metaboliza outras drogas, incluindo o álcool. Quando drogas e medicamentos estão presentes ao mesmo tempo o seu metabolismo é muito mais lento, o que pode levar a sobredosagem perigosa e imprevisível quer do medicamento quer da droga.

Uma sobredosagem da medicação pode causar efeitos secundários muito graves. Uma sobredosagem de uma droga pode significar a morte. Há casos de morte por mistura de ecstasy com inibidores das proteases.

Alguns antiretrovirais podem alterar a quantidade de metadona no sangue. Pode ser necessário ajustar a dose de metadona nalguns casos. Ver que tipos de medicamentos que esteja a tomar.

Para terminar

O uso de drogas é uma das principais responsáveis causas de novas infecções pelo HIV. A partilha de material de injecção pode transmitir o HIV, hepetites ou outras doenças. O uso de drogas, incluindo álcool, contribui para sexo não protegido.

Para se proteger da infecção, nunca reutilize o material de injecção. Mesmo que reutilize as suas próprias seringas e agulhas desinfecte-as antes de voltar a usar. A desinfecção é só parcialmente eficaz.

Portugal tem um programa de troca de seringas. Estes programas reduzem a taxa de novas infecções pelo HIV.

A droga pode levar ao esquecimento de doses da medicação antiretroviral. Isto aumenta as possibilidades de falência terapêutica e de resistência aos tratamentos.

A mistura de drogas com antiretrovirais é perigosa. As interacções entre medicamentos podem causar graves efeitos secundários ou sobredosagens perigosas.

HIV é mais nefasto para quem consome drogas

Doenças, Drogas em geral, Geral, Notícias Julho 31st, 2008

Os infectados com VIH/Sida que continuaram a consumir drogas “têm perturbações cognitivas maiores” associadas à infecção do que aqueles que contraíram o vírus por via sexual.

A conclusão resulta de uma investigação sobre a deterioração cognitiva associada à infecção pelo VIH”, actualmente a ser conduzida pela Faculdade de Medicina do Porto. Os seropositivos têm alterações frequentes e variáveis ao nível do funcionamento mental, que podem oscilar desde pequenas perturbações na atenção até à demência.

“Deve-se sobretudo à predilecção do vírus pelo sistema nervoso central”, explicou o psiquiatra Miguel de Bragança, responsável pelo estudo. Neste momento, referiu, estão a ser analisados cerca de 2/3 da amostra de 130/150 indivíduos medicados e acompanhados na consulta externa de doenças infecciosas do Hospital de S. João. A amostra apenas inclui pacientes com menos de 50 anos.

“Legalizar as drogas é inevitável no futuro”

Doenças, Drogas em geral, Geral, Prevenção, Saúde, Toxicodependência Abril 17th, 2008

A troca de seringas nas prisões é “urgente”, a prevenção não deve ser moralista e a sociedade livre de drogas é uma utopia.

Há dez anos, ‘a droga’ era o inimigo público número um dos portugueses, no discurso político e nas sondagens. Agora quase desapareceu. O que é que se passou?

As estratégias de redução de danos, embora não tenham sido levadas tão longe quanto deviam, vieram diminuir a visibilidade pública e o sentimento de ameaça que a droga constituía para os portugueses. E trouxeram uma maior oferta de tratamento, a diminuição da criminalidade associada à droga. E também as terapêuticas de substituição opiácea, como a metadona.

Faz-lhe confusão que uma pessoa tome metadona toda a vida?

Penso que a todo o momento podemos repensar a terapêutica e a saída. Eventualmente na actual prática essa questão não está tão presente, talvez por inércia.

Tem-se falado muito – Jorge Sampaio já o disse várias vezes – na necessidade de um novo paradigma para este combate, em substituição do paradigma proibicionista. O Parlamento Europeu aprovou um relatório nesse sentido Admitir que não é possível uma “sociedade livre de drogas” e que é preciso saber viver com elas. Que pensa disso?

As estratégias de redução de danos têm a ver com essa visão pragmática tentar minimizar os efeitos nefastos das drogas nos indivíduos e na sociedade. O proibicionismo conduziu a situações muito complicadas. Mesmo quando um consumidor não quer ou não consegue suspender o consumo, continua a merecer investimento.

Há quem defenda que o melhor caminho passa pela legalização das drogas agora ilícitas. Qual é a sua opinião?

Penso que é um caminho que vamos seguir, no futuro. O novo paradigma, se calhar, passa por aí, pela legalização e regulamentação da venda e consumo das drogas. Creio que é inevitável, mas é algo que terá de ser feito em conjunto por vários países. Este é um caminho feito por pequenos passos. A descriminalização, feita por iniciativa do actual primeiro-ministro em 1999, não teria sido possível dez anos antes e depois foi aceite de forma pacífica. Nesta fase, devemos consolidar o que temos.

E quais as suas prioridades?

Penso que é necessário elaborar um plano com horizonte 2012, mas não é necessário inventar a roda. Ela já foi inventada. É preciso cumprir a anterior estratégia [elaborada pelo Governo de Guterres]. Muito ficou por fazer. Desde logo, na prevenção primária. É preciso reformulá-la de modo a torná-la mais realista, mais pró-activa, mais desenvolvida nos meios reais. Outra é sanar as carências a nível do tratamento ainda há pessoas em lista de espera em Sintra, Setúbal… Não temos de construir novos CAT, mas criar respostas mais ligeiras, por exemplo nos centros de saúde, criar equipas móveis, capazes de avançar, por exemplo, para o interior. E temos de rever os planos municipais de combate à toxicodependência, uma das grandes prioridades do Governo anterior, que usam recursos do IDT para actividades que não me parecem ser a nossa vocação.

O anterior Governo afirmou apostar na prevenção, mas deixou cair a educação para a saúde nas escolas…

É preciso apostar nessa área com maior envolvimento dos destinatários. Ensinar os jovens não só a evitar os riscos, mas também a enfrentá-los. Gostava de ver equipas de rua a actuar em meios de diversão nocturna. O que já aconteceu, mas acabou por deixar de se fazer por falta de financiamento.

Defende a disponibilização de testes às ‘pastilhas’, como se faz na Holanda?

Sim, desde que isso seja aproveitado para fazer prevenção, falando acerca da efectiva perigosidade das substâncias (lícitas e ilícitas), informando as pessoas para que possam fazer escolhas, enquanto funciona também como redução de danos, já que pode impedir a toma de pastilhas ‘maradas’… Claro que as equipas que fazem isso têm de ser constituídas por pessoas com características especiais, com capacidade de empatia, sem a atitude de técnicos sapientes nem moralismos.

Em 2002, quando saiu da presidência do Serviço de Prevenção e tratamento da Toxicodependência (SPTT), disse que uma das razões do incumprimento da estratégia era a falta de financiamento. Deveria ter havido 160 milhões de euros para este combate em 2004… Já sabe com quanto conta?

Estou certo que estamos muito longe desse valor, embora não saiba qual o orçamento disponível. Claro que assim não era possível cumprir a estratégia, e isso devia ter sido tido em conta na avaliação que foi levada a cabo pelo Instituto Nacional de Administração. A estratégia apontava para um serviço interministerial junto do primeiro–ministro, com poder para tomar determinadas medidas. Muito disso ficou pelo caminho com a fusão entre o SPTT e o Instituto Português da Droga e da Toxicodependência.

Que criticou na altura, mas a cuja entidade daí resultante vem agora a presidir. É uma ironia.

É. Mas perdeu-se muita energia na fusão, não se pode voltar atrás.

As Comissões de Dissuasão (CDT) foram uma das grandes novidades, aliás estreia mundial, da estratégia. Integrou uma grupo que avaliou o seu desempenho. Qual a sua percepção do funcionamento das CDT?

Penso que foram sobredimensionadas. São estruturas demasiado pesadas, burocráticas. Têm de ser flexibilizadas, diminuindo o peso de dirigentes e dando relevo aos técnicos. É necessário articulá-las mais com o tratamento, com o acompanhamento dos consumidores…

As CDT lidam sobretudo com consumidores de haxixe. O que é que se faz a um consumidor de haxixe?

Para a maioria dos jovens, o haxixe é visto como uma substância sem risco, e isso não é verdade. É preciso informá-los disso.

Que riscos são esses?

Embora não esteja estabelecido um nexo de causalidade entre a esquizofrenia, surtos psicóticos e o consumo da substância, há uma incidência mais elevada entre os consumidores. Existe o síndroma amotivacional nos utilizadores mais frequentes, e há um risco maior para os pulmões que o causado pelo tabaco. Um charro equivale a um maço de tabaco.

Como é que explica a um jovem que essa substância é proibida e não deve ser consumida porque tem estes e estes riscos quando o álcool e o tabaco não são proibidos e têm riscos tão grandes ou maiores?

Concordo que é difícil explicar. Todas as sociedades têm as suas drogas. A nossa droga tradicional é o álcool, e também o tabaco. Mas se calhar temos de pensar que o haxixe também já está incorporado na nossa cultura, é corrente há 30 anos. Esses miúdos se calhar viram os pais, os avós, a usá-lo. E isto tem de ser incorporado no discurso. Não significa que tenhamos de nivelar por baixo. Temos é de nos bater por diminuir os consumos de tabaco, de álcool e haxixe. Criar estilos de vida saudáveis.

Os centros privados de combate ao tabagismo têm muita procura. Não deveria o Estado, que arrecada impostos com esse consumo, actuar nessa área

Sim. Mas não através do IDT, porque vejo no hábito tabágico uma dependência e não uma toxicodependência.

O anterior ministro falou de incluir o combate ao alcoolismo nas atribuições do IDT. Os Centros de Atendimento a Toxicodependentes vão passar a atender alcoólicos?

Não concordo com a atribuição de competências ao IDT sobre o alcoolismo tout court. Na prática, os CAT já trabalham nessa área, porque muitos toxicodependentes são policonsumidores. Teremos dificuldade em acolher todos os alcoólicos.

Aloca-se muito mais dinheiro ao combate às drogas ilícitas que ao álcool, cuja dependência afecta muito mais gente – as estimativas apontam para um milhão. Parece-lhe justo?

Alguma da nossa estrutura pode ser envolvida também nesse combate. Pode haver alguma afectação de recursos. A rede de comunidades terapêuticas convencionadas, neste momento tida como excessiva em relação às necessidades, pode reconverter-se para o combate ao alcoolismo. E não só temos uma comunidade de dependentes de heroína cada vez mais velhos e mais doentes, alguns ficam encalhados no sistema, pendurados na assistência, sem alternativa de vida. É preciso encontrar uma resposta para este tipo de pessoas. E acho que algumas dessas comunidades terapêuticas podem transformar-se em unidades residenciais de longa duração, com cuidados de saúde…

Asilos?

É uma palavra um pouco forte. Mas é preciso encontrar uma solução para esta faixa muito pequena de pessoas.

Fonte: DN

ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA TOXICODEPENDÊNCIA EM PORTUGAL

Doenças, Drogas em geral, Saúde Março 27th, 2008

Dra. Elza Pais

O número de casos de Sida associados à toxicodependência é, entre nós, preocupante. O Relatório do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (OEDT) deste ano, é disso revelador, colocando Portugal no leque dos países com mais casos de toxicodependentes com VIH, logo a seguir à nossa vizinha Espanha.
Com efeito, o aumento de casos de SIDA associados à toxicodependência tem vindo, em Portugal, a registar um maior aumento comparativamente às restantes categorias de transmissão. Sem querer aligeirar a preocupação crescente que, todos os que trabalham nesta área, deverão ter para com dados desta natureza, gostaria, no entanto de referir que, pelo conhecimento que temos da evolução do sistema de notação estatística, tal dado, poderá, contudo, ser revelador, não necessariamente de um aumento efectivo do número de casos nessas circunstâncias, mas significar apenas uma melhor notificação destes casos, isto é, um melhor sistema de vigilância neste grupo populacional comparativamente com as outras categorias de transmissão. Na realidade, as doenças associadas à toxicodependência têm originado articulações inter-serviços de saúde, sendo habitual o rastreio de doenças infecto-contagiosas dos casos que procuram tratamento para a toxicodependência.
Os dados do Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis  sugerem que o ritmo de crescimento do número de toxicodependentes diagnosticados com SIDA verificado até 1997, parece ter começado a estabilizar a partir desta data, embora se trate de valores ainda não ajustados dos atrasos de notificação. Também o ritmo de crescimento da proporção de toxicodependentes com SIDA no conjunto dos casos com diagnóstico de SIDA, tem vindo a abrandar nos últimos anos, tendo sido essa proporção de 59% em 1999.
No que se reporta ao total de casos acumulados e notificados até 30/06/2000, os toxicodependentes constituíam cerca de 50% do total de casos de SIDA notificados. Cerca de 84% daqueles casos pertenciam ao sexo masculino e 92% ao grupo etário 20-39 anos, sendo de destacar o grupo de 25-29 anos ao qual pertencem cerca de 33% dos casos de toxicodependentes com SIDA. Os distritos de Lisboa, Porto e Setúbal, registavam as maiores percentagens do total de casos diagnosticados com SIDA, assim como de toxicodependentes diagnosticados com SIDA.
Sendo unânime a convicção de que os dados sobre os casos de SIDA são insuficientes para uma leitura consistente e integrada do fenómeno, importa investir num melhor conhecimento da realidade portuguesa no que respeita à disseminação do VIH.
A UNAIDS e a OMS já publicaram as normas a aplicar a sistemas de vigilância epidemiológica para o VIH com vista ao reforço dos actuais sistemas de vigilância. Em 1999  desenvolveram-se esforços de modo a incentivar a notificação de casos de VIH, mas outras fontes de informação deverão ser consideradas para uma melhor caracterização da situação.
No entanto, o registo de prevalências de infecção do VIH em populações específicas deverá ser feito com toda a cautela, contextualizando o modo como esses subgrupos se integram em populações de risco e na população geral, de modo a evitar conclusões abusivas e más interpretações da realidade nacional.
No que se refere à população toxicodependente, designadamente o grupo de utilizadores de drogas injectadas, têm sido desenvolvidos importantes esforços no sentido dum rastreio cada vez mais sistemático da infecção do VIH em vários subgrupos populacionais, pressupondo uma estreita articulação entre diferentes estruturas do Serviço Nacional de Saúde. Assim, os toxicodependentes que recorrem às estruturas de tratamento da toxicodependência, os que se encontram em situação de reclusão e outros subgrupos de toxicodependentes com comportamentos de risco de particular gravidade, têm sido alvo de um rastreio cada vez mais sistemático.
Neste contexto, o Serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência (SPTT) e outras estruturas de tratamento da toxicodependência, adquirem papel privilegiado no controle da disseminação do VIH entre a população toxicodependente que recorre aos seus serviços. Em 1999, os dados disponíveis apontam para 17.7% de seropositivos entre os que recorreram pela primeira vez aos serviços do SPTT e que apresentaram os resultados dos testes de rastreio. Entre os utentes internados em comunidades terapêuticas, públicas e licenciadas, a percentagem de seropositivos foi de 18.2%. Por outro lado, dados recolhidos no primeiro trimestre de 1999 junto de grande parte dos CATs, indicavam que cerca de 45% dos utentes que recorreram pela primeira vez a estes serviços tinham utilizado, pelo menos uma vez, a via endovenosa nos 30 dias anteriores à 1ª consulta.
O cruzamento de dados sobre a infecção do VIH destas e de outras fontes de informação e a respectiva relativização à forma como se integram no conjunto da população toxicodependente e em última análise da população geral, bem como uma melhor caracterização dos padrões epidemiológicos e dos padrões de comportamento de risco, irão certamente contribuir para uma intervenção preventiva mais adequada às diferentes realidades e a um controlo mais eficaz da disseminação do VIH entre a população toxicodependente.
No âmbito desta intervenção preventiva, há que realçar entre outros, o importante trabalho desenvolvido pela Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA (CNLCS) em colaboração com a Associação Nacional das Farmácias, que, com vista a alterar os comportamentos de risco na população toxicodependente, têm mantido a implementação no terreno dum programa de âmbito nacional – o Programa “Diz não a uma seringa em segunda mão”, instituído em Outubro de 1993.
Este Programa contempla a distribuição de Kits com material esterilizado para consumo de drogas por via injectável, preservativos e material informativo com vista à sensibilização e responsabilização do grupo-alvo no sentido de promover comportamentos de consumo e comportamentos sexuais seguros.
O número de seringas recolhidas desde o início do programa até Dezembro de 1999, evidencia os distritos de Lisboa, Porto e Setúbal como aqueles que apresentaram maior número de seringas recolhidas no âmbito deste programa, respectivamente com cerca de 55%, 18% e 13% do total de seringas recolhidas no país. Se se calcular o número de seringas recolhidas por habitante – tendo em consideração a população residente em cada distrito e a faixa etária 15-39 anos à qual pertencem a maioria dos utilizadores de drogas injectáveis, mais uma vez se destacam os distritos de Lisboa, Setúbal e Porto, respectivamente com cerca de 13, 9 e 5 seringas recolhidas por habitante desde o início do programa, bem como o distrito de Faro também ele com cerca de 5 seringas recolhidas por habitante.
Em 1999 foi alargado o campo de intervenção do Programa com a assinatura de protocolos de parceria com outras instituições que, para além da distribuição dos Kits disponibilizados por este Programa, asseguram também um conjunto de serviços básicos de saúde e apoio social, estabelecendo uma ponte para os serviços prestadores de cuidados de saúde.
Ainda em 1999, foi assinado um Protocolo entre a CNLCS e o IPDT com vista a uma colaboração regular e sistemática no desenvolvimento de projectos/acções no âmbito de programas de redução de riscos junto da população toxicodependente.
É também de referir o alargamento de programas de administração de metadona de baixo limiar em situações mais gravosas, que promovem alternativas ao consumo por via endovenosa e são complementados com medidas de apoio sanitário e social.
Há no entanto ainda muito por fazer nesta matéria e um dos objectivos prioritários a nível Nacional e Europeu no âmbito do Plano de Acção de Luta Contra a Droga 2000-2004 é o de reduzir os danos associados ao consumo de drogas. Nesta perspectiva, o IPDT, em articulação com outras estruturas com intervenção na área da toxicodependência, desenvolverá todos os esforços com vista a um alargamento do rastreio de doenças infecto-contagiosas (entre elas o HIV/SIDA) em populações toxicodependentes. A nível do Sistema de Informação sobre Droga e a Toxicodependência ir-se-á recorrer a múltiplas fontes de informação com a respectiva contextualização dos subgrupos, de modo a permitir uma melhor caracterização das diferentes realidades e contribuir para intervenções preventivas mais eficazes no controlo da disseminação do VIH entre a população toxicodependente. Está também prevista a realização de um projecto de redução de riscos em cada capital de Distrito.

Hepatite C

Doenças, Geral, Saúde Março 27th, 2008

A hepatite C é uma doença viral do fígado causada pelo vírus da hepatite C (HCV). A hepatite C pode ser considerada a mais temida e perigosa de todas as hepatites virais, devido à inexistência de vacina e limitações do tratamento, e à sua alta tendência para a cronicidade que complica eventualmente em cirrose hepática mortal.O vírus da hepatite C é um flavivirus, um dos poucos dessa família (que inclui os vírus da dengue, febre amarela e Nilo ocidental) que não é transmitido por artrópodes. Este vírus tem um genoma de RNA simples de sentido positivo (é usado directamente como mRNA na síntese proteica). Reproduz-se no citoplasma e retículo endoplasmático, produzindo dez proteínas virais. Algumas destas proteínas inibem a apoptose (morte programada) da célula e outras inibem a acção do interferon. Tem envelope bilípidico e portanto não sobrevive a condições secas.

 

O vírus tem uma preferência forte (tropismo), em infectar os hepatócitos do fígado. Os sintomas da hepatite são pelo menos tanto devido à acção necessária do sistema imunitário como aos danos causados pelo vírus.
A transmissão é por infecção do sangue por sangue contaminado, como ocorre em transfusões (hoje praticamente impossível de ocorrer dado o rastreio sistemático de todos os dadores) e troca de agulhas infectadas, piercings e tatuagens em estabelecimentos que não esterilizam cuidadosamente todos os materiais (não só a agulha); pela actividade sexual (4%) e da mãe para o filho recém-nascido (4%). No entanto a mulher portadora pode amamentar. Existe uma alta percentagem (em torno de 30%) de casos em que não é possível identificar a origem da infecção.Em Portugal, todas as pessoas que, antes de 1992, se submeteram a intervenções cirúrgicas, que foram sujeitas a transfusões de sangue, e os ex-combatentes da Guerra do Ultramar devem pedir aos seus médicos de família o rastreio da hepatite C (o anti-VHC). É uma simples análise ao sangue..Hoje existe tratamento para a hepatite C. Embora ainda não se possa falar de cura definitiva (há necessidade de esperar pelos resultados finais dos estudos obrigacionais de longa duração em curso) as taxas de resposta mantida variam entre os 50 e os 60% de todos os doentes tratados.Ao contrário da hepatite B, o vírus da hepatite C não incorpora o genoma celular, permanecendo no citoplasma da célula hepática, pelo que o objectivo de cura completa com a eliminação do vírus C seja, em teoria, possível.O tratamento consiste numa injecção semanal de Interferão Peguilado junto com 4 a 6 comprimidos diários de ribavirina. A taxa de resposta ao tratamento varia de acordo com o genótipo do vírus (1, 2, 3, 4, 5 e 6). A taxa de resposta pode variar entre 54 e 63% no caso do genótipo 1 e 4, mais de 75% para o genótipo 3, e 80 a 95% dos casos para o genótipo 2. O tratamento dura entre 24 semanas (genótipo 2 e 3) e 48 semanas (genótipo 1 e 4). Estudos recentes levados a cabo indicam ser possível tratar os doentes genótipo 1 e 4 com baixas cargas virais em apenas 24 semanas e entre 12 a 16 semanas os doentes genótipo 2 e 3 caso consigam negativar a viremia a partir da semana 4 de tratamento, mas que ainda carecem de validação de estudos clínicos com um número maior de doentes.

Rastreios aumentam para combater a SIDA

Doenças, Geral, Saúde Março 27th, 2008

Numa data em que se poderá estar mais perto de obter uma vacina eficaz contra o vírus da Sida, o Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção pelo VIH/SIDA (CAD) do Barreiro continua a apostar na prevenção desta doença. Para 2008 está previsto levar à população dos concelhos vizinhos mais informação e despistes, na esperança de impedir a transmissão e a evolução da doença.
À semelhança de Setúbal e de Almada, também o Barreiro possui um Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção pelo VIH/SIDA (CAD), serviço que permite proceder ao rastreio, aconselhamento e apoio psicológico a pessoas portadoras do VIH (vírus da imunodeficiência humana). Com base numa parceria entre a Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA (CNLCS) e o Centro de Saúde do Barreiro, o CAD do Barreiro encontra-se a funcionar na Unidade de Saúde Eça de Queirós há cerca de cinco anos, mas tem visto o número de pessoas a recorrer ao seu serviço decrescer.
Embora esta situação possa parecer “um bom sinal”, na opinião do director do Centro de Saúde do Barreiro, Francisco Gouveia, a actuação do CAD não pode parar, uma vez que “a doença continua a aparecer”. Com o apoio de uma carrinha móvel, previsto está em 2008, começar a proceder à acção deste serviço de “forma descentralizada”, nomeadamente nos concelhos da Moita, do Montijo e de Alcochete.
Com o alargamento desta intervenção, objectivo é proceder a uma “informação prévia da população”, bem como a “possíveis despistes” da doença. Partir para esta decisão prendeu-se com a tomada de consciência de que “é preciso ir à procura de muitas das pessoas que conviria rastrear, em vez de estar à espera que elas recorram ao serviço”.

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