Numa data em que se poderá estar mais perto de obter uma vacina eficaz contra o vírus da Sida, o Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção pelo VIH/SIDA (CAD) do Barreiro continua a apostar na prevenção desta doença. Para 2008 está previsto levar à população dos concelhos vizinhos mais informação e despistes, na esperança de impedir a transmissão e a evolução da doença.
À semelhança de Setúbal e de Almada, também o Barreiro possui um Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção pelo VIH/SIDA (CAD), serviço que permite proceder ao rastreio, aconselhamento e apoio psicológico a pessoas portadoras do VIH (vírus da imunodeficiência humana). Com base numa parceria entre a Comissão Nacional de Luta Contra a SIDA (CNLCS) e o Centro de Saúde do Barreiro, o CAD do Barreiro encontra-se a funcionar na Unidade de Saúde Eça de Queirós há cerca de cinco anos, mas tem visto o número de pessoas a recorrer ao seu serviço decrescer.
Embora esta situação possa parecer “um bom sinal”, na opinião do director do Centro de Saúde do Barreiro, Francisco Gouveia, a actuação do CAD não pode parar, uma vez que “a doença continua a aparecer”. Com o apoio de uma carrinha móvel, previsto está em 2008, começar a proceder à acção deste serviço de “forma descentralizada”, nomeadamente nos concelhos da Moita, do Montijo e de Alcochete.
Com o alargamento desta intervenção, objectivo é proceder a uma “informação prévia da população”, bem como a “possíveis despistes” da doença. Partir para esta decisão prendeu-se com a tomada de consciência de que “é preciso ir à procura de muitas das pessoas que conviria rastrear, em vez de estar à espera que elas recorram ao serviço”.


Um sistema anónimo, gratuito e confidencial

A funcionar dois dias por semana no Centro de Saúde do Barreiro, Extensão Eça de Queirós, nº38, o CAD do Barreiro disponibiliza consultas de forma gratuita, anónima e confidencial nas terças-feiras, das 9 às 12 horas, e nas quartas-feiras, das 16 às 19 horas. A este serviço pode recorrer “qualquer pessoa interessada em saber mais sobre a doença ou em poder, inclusivamente, fazer um teste de rastreio e saber qual a sua situação”.
Segundo Francisco Gouveia, pressuposto é que as pessoas que se dirigem a este sistema sejam “pessoas que, em consciência, tenham um risco aumentado de ter contraído a doença”, seja por via sexual ou por troca de seringas entre toxicodependentes, as “duas vias que mais frequentemente conduzem à infecção pelo VIH”.
No local, “uma psicóloga faz um primeiro contacto/conversa com a pessoa, bem como uma avaliação de risco, explicando aquilo que a pessoa tiver necessidade de ver esclarecido”. Caso a pessoa pretenda, “na continuidade, é-lhe retirado sangue que é enviado para o Hospital, onde feita uma análise”. Já na semana seguinte, a pessoa terá que voltar ao CAD para “ter uma nova entrevista e o acesso ao resultado da análise”.
A “total confidencialidade” é uma das bases do funcionamento deste serviço, razão pela qual “em tempo algum é perguntado o nome da pessoa”, sendo o registo da mesma efectuado numa ficha por intermédio de um código de barras que a identifica.
Embora entre as cerca de 400 pessoas que recorreram ao CAD do Barreiro não tenha havido muitos diagnósticos positivos, “sempre que há positividade da análise é concedida toda a disponibilidade para um encaminhamento urgente para um hospital, local ou não, onde a investigação prosseguirá e a proposta terapêutica também poderá seguir”. Ao ser um serviço anónimo e que não é específico para a população do Barreiro, “é frequente verificar-se um deslocamento das pessoas entre os diferentes concelhos”, independentemente do local onde vivem.
Um espaço de informação e sensibilização

Um serviço que não se esgota “na análise ou detecção do portador do vírus” é como Francisco Gouveia caracteriza a acção dos CAD’s, que tiveram as suas experiências mais duradouras em Lisboa. A actuação dos CAD’s é também muito importante, segundo o director do Centro de Saúde do Barreiro, na medida em que funcionam enquanto “espaços de trabalho informativo e de sensibilização”, sobretudo junto das “pessoas com risco aumentado de contraírem a doença”.
“Todas aquelas pessoas que se deslocam para fazer um contacto desta natureza de certeza que têm consciência de que os seus procedimentos não serão os mais adequados; de forma que esta é uma oportunidade para, junto de técnicos especializados, reforçar a necessidade de protecção com preservativo bem como divulgar a aquisição e troca de seringas nas farmácias”.
Sendo uma doença “bastante grave e que pode conduzir à morte”, a SIDA é uma área em que, segundo Francisco Gouveia, “continua a ser também economicamente mais favorável investir na prevenção”, uma vez que “os próprios tratamentos são muito dispendiosos”. “Uma aposta francamente compensadora” é como o responsável encara a acção de prevenção da doença, não só porque a detecção precoce da infecção pelo VIH possibilitará a não evolução da doença no indivíduo portador, bem como reduzirá a difusão do vírus para mais pessoas pelas diversas vias possíveis.

O que é a Sida?

A SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida) é uma síndrome, ou seja, de um conjunto de sintomas e sinais que não dizem respeito apenas a uma doença. É uma síndrome de Imunodeficiência porque o vírus deixa o sistema imunológico deficiente; e é Adquirida, uma vez que resulta da acção de um agente externo ao organismo humano.
A SIDA manifesta-se por um conjunto de sinais e sintomas bem definidos que podem surgir em indivíduos com a infecção pelo VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana, que penetra no organismo por contacto com uma pessoa infectada. A transmissão pode acontecer de três formas: relações sexuais; contacto com sangue infectado; de mãe para filho, durante a gravidez ou o parto e pela amamentação.
Desde o momento em que se adquire a infecção até que surjam sintomas de doença decorre um período de tempo, designado como fase assintomática da infecção pelo VIH, (que pode durar em média 8 a 10 anos) em que a pessoa infectada não tem qualquer sintoma e se sente bem. Nesta fase a infecção pode ser detectada apenas se se efectuarem as análises específicas para o VIH. Esta é a fase da doença em que se diz que o indivíduo é seropositivo.
Na evolução da infecção pelo VIH verifica-se uma destruição progressiva do sistema de defesa do organismo humano (o sistema imunológico), mais concretamente das células defensoras do organismo, deixando a pessoa infectada (seropositiva) mais debilitada e sensível a outras doenças (estado de imunodepressão). Estas doenças são as chamadas infecções oportunistas que são provocadas por micróbios e que não afectam as pessoas cujo sistema imunológico funciona convenientemente. Também podem surgir alguns tipos de tumores (cancros).
Entre essas doenças, encontram-se a tuberculose; a pneumonia por Pneumocystis carinii; a candidose, que pode causar infecções na garganta e na vagina; o citomegalovirus um vírus que afecta os olhos e os intestinos; a toxoplasmose que pode causar lesões graves no cérebro; a criptosporidiose, uma doença intestinal; o sarcoma de Kaposi, uma forma de cancro que provoca o aparecimento de pequenos tumores na pele em várias zonas do corpo e pode, também, afectar o sistema gastrointestinal e os pulmões.
Quando uma pessoa infectada pelo VIH tem uma destas infecções oportunistas ou tumores passa a dizer-se que já tem SIDA. Quer um seropositivo, quer um indivíduo com SIDA podem transmitir a infecção a outras pessoas através de comportamentos de risco. A SIDA provoca ainda perturbações como perda de peso, tumores no cérebro e outros problemas de saúde que, sem tratamento, podem levar à morte. Esta síndrome manifesta-se e evolui de modo diferente de pessoa para pessoa.

Comportamentos de risco

– Toxicodependentes que se injectam e partilham agulhas, seringas e outro material usado na preparação da droga para injecção.
– Pessoas que não praticam sexo seguro, isto é, que não usam preservativos e têm mais do que um parceiro sexual.
– Profissionais de saúde – acidentes com contacto com objectos cortantes contaminados (agulhas) ou com sangue, ou outros líquidos orgânicos, contaminados.



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