A violência nas escolas e o alto nível de abandono escolar em Portugal podem estar relacionados com o consumo de “charros” mais fortes, devido ao maior índice do princípio activo da canabis, segundo o presidente da Associação Portugal Livre das Drogas.

Em declarações à Agência Lusa, Manuel Pinto Coelho referiu que actualmente se encontra entre cinco a 25 por cento de tetrahidrocanabinol (THC) nos denominados “charros”, enquanto anteriormente a percentagem do princípio activo da canabis rondava os dois a três por cento. Por isso, o responsável garante não fazer sentido a diferenciação entre drogas duras e leves.

O presidente da Arisco, Instituição para a Promoção Social e da Saúde, Lúcio Santos, concorda com a definição de que “drogas são drogas” e nesta definição devem ser incluídos ainda “consumos descontrolados” de álcool e tabaco.

O psicólogo, que já integrou um projecto de prevenção nomeadamente da toxicodependência em várias escolas, garantiu ainda que problemas como a violência ou o abandono escolares têm que ser explicados sempre por “conjugação de factores”, que podem ir desde a esfera familiar até à social.

“Nas situações relatadas pelos professores e outros profissionais das escolas, muitas das situações nem sequer estão relacionadas com o consumo de haxixe”, notou Lúcio Santos, para quem é também importante analisar os consumos como consequências e não apenas como origem dos problemas.

O médico Manuel Pinto Coelho referiu, por seu lado, que a concentração maior de THC deve-se a métodos de biotecnologia e mutações genéticas.

“Mais de metade dos estudantes do secundário e universitário consome drogas leves, embora essa distinção já não faça sentido porque as drogas são todas duras, segundo as determinações das Nações Unidas. A agressividade nas escolas pode estar relacionada com esse consumo de cigarros de canabis, que chegam a ter 10 vezes mais THC que anteriormente”, alertou.

Segundo Pinto Coelho, mais THC provoca mais “agressividade e um síndrome amotivacional, que passa pela apatia, indolência, o que leva à desmotivação, maior dificuldade em reter os conhecimentos e a uma repercussão no rendimento escolar”.

“Portugal é recordista europeu no abandono escolar”, com 38 por cento, enquanto a taxa europeia é de 14 por cento”, referiu a mesma fonte, acrescentando que um estudo publicado no ano passado na revista científica Lancet registou um aumento de tratamentos hospitalares de esquizofrenia e psicoses relacionado com o consumo de canabis.

O presidente da Arisco questionou ainda qual pode ser o peso da adulteração das drogas nos comportamentos amotivacionais e promotores de violência.

Recuperando a ideia já defendida de usar “kits” de detecção de drogas nas escolas, Pinto Coelho defendeu terem uma “dupla vantagem”: “óptimo pretexto para os jovens recusarem fumar um charro sem serem vistos como ‘caretas’ e serve para detectar de forma precoce a toxicodependência e encaminhar os casos para tratamento”.

Já Lúcio Santos teme efeitos perversos da medida, que podem passar por uma “promoção do absentismo” para evitarem serem testados e encontrar formas para “adulterar os resultados”.

“O argumento para o consumo também deve vir de dentro e não de fora. Por isso, a prevenção deve ser feita em linha com o desenvolvimento individual, familiar e social”, afirmou.



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