3200 pessoas com problemas de toxicodependência já passaram pelo CAT de Aveiro, desde que abriu, há 11 anos,em S. Bernardo

José C. Maximino, Nuno Alegria

O Centro de Atendimento de Toxicodependentes (CAT) de Aveiro já atendeu quase 3200 indivíduos, homens e mulheres, sobretudo jovens, mais ou menos dependente do consumo de drogas, desde que abriu as portas, em 1995, em instalações do antigo Centro de Saúde Mental de Aveiro, em S. Bernardo. Actualmente, estão a ser acompanhados 920 pacientes. Um número ligeiramente inferior aos dos últimos anos 1043 em 2004, 980 em 2003.

Venda travada na véspera

Poucos dias depois da data em que as instalações do antigo Centro de Saúde Mental de S. Bernardo, incluindo o edifício do CAT, estiveram para ser vendidas em hasta pública (a praça, marcada para quinta-feira passada, acabou por ser anulada, à última hora, na sequência de diligências do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), junto da Direcção-Geral do Património), o JN esteve meio dia no CAT. E testemunhou uma grande preocupação quanto ao futuro da instituição e daqueles que a procuram, em busca de ajuda especializada, em caso de venda. Criado em 1995, o CAT de Aveiro cobre, actualmente, 12 municípios do distrito Ovar, Estarreja, Murtosa, Águeda, Albergaria-a-Velha, Sever do Vouga, Aveiro, Ílhavo, Vagos, Oliveira do Bairro, Anadia e Mealhada. Os outros sete, situados mais a norte, são, agora, cobertos pelo CAT de Santa Maria da Feira, criado há cerca de quatro anos. Apesar disso, ainda há pacientes desses municípios, caso de Espinho, que por causa dos transportes (comboio) preferem continuar a fazer tratamento em Aveiro. Para responder às necessidades dos actuais 920 utentes, o CAT de Aveiro conta com uma equipa de oito médicos , seis enfermeiros, cinco psicólogos, cinco técnicos de serviço social, três de secretariado e dois auxiliares.

No universo dos utentes que estão, presentemente, a ser acompanhados, 2,5% consumiam drogas injectáveis, 4,6% são portadores de sida, 12,5% de hepatite B e o maior número, 54%, tem hepatite E (associada à partilha de seringas e práticas sexuais não protegidas), 297 fazem tratamento de substituição com metadona e 180 com buprenorfina (vulgo “Subutex”) .

Embora não seja rigoroso estabelecer uma relação directa entre a procura de ajuda médica e o consumo de drogas, os números apontam tendências, permitem construir percepções.

” Temos a ideia de que o consumo de heroína está estabilizado”, diz o director do CAT de Aveiro, Rocha Almeida. “Outra percepção diz-nos que já não há consumidores só de heroína e que o policonsumo (de álcool, haxixe, cocaína, ácidos e pastilhas) está em alta. Tem aumentado de maneira significativa ( a cocaína até já está mais barata do que a heroína) e começa a aparecer em estratos cada vez mais jovens”, diz o médico.

Projecto Praça do Peixe

O aumento do consumo de drogas associado ao álcool levou o CAT a desenhar um projecto de intervenção de rua, na noite aveirense. O programa está a ser desenvolvido através de uma parceria que, além do CAT, envolverá a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia da Vera Cruz, a Universidade, a Associação Académica e os próprios bares. A Praça do Peixe será o espaço de intervenção privilegiado dos diversos agentes, tendencialmente pessoas jovens, que vão começar a receber formação já este mês. “Associado ao álcool, o consumo de drogas é extremamente problemático. As bebidas alcoólicas concentradas estão na moda, induzindo ao consumo exagerado de outras substâncias, às vezes adulteradas. “Vamos mostrar-lhes, através de coisas simples, algumas tiradas da Internet, o estado em que se encontram e a “qualidade” das drogas”, diz Rocha Almeida, sublinhando tratar-se de um projecto no âmbito da política de redução de riscos.



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